quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Voltando à infância....

      Decididamente, hoje eu amanheci saudosa, nostálgica,... Deem o nome que quiser.
      Resolvi revirar as páginas da memória e voltei aos velhos e bons tempos.




Meus avós paternos! Um dos lados do começo de tudo!


 Meu pai e minha mãe, no carnaval de 1950, onde se conheceram!






 A Grande Família!


                                                                                                               Minha Crisma!





     Nasci em 07 de março de 1957, no dia das Santas Perpétua e Felicidade. Neste dia também é comemorado o Dia do Fuzileiro Naval e o Dia Mundial da Prece.
     Procurando dados na internet, não encontrei nenhum fato relevante ocorrido neste dia, mas descobri que é aniversário natalício de Maurice Ravel (compositor). Talvez, todo ano, neste dia, os anjos se reunam para tocar suas liras, pois eu também sou apaixonada por música.
     Além do fato de eu ter nascido, o ano de 1957 foi marcado por um episódio que entrou para a história das grandes conquistas: a União Soviética surpreendeu o mundo ao lançar o primeiro satélite artificial de nosso planeta, o Sputnik 1. Nossa! Agora me caiu a ficha. Eu tenho a idade do Sputnik 1.
     Por poucas horas não vim ao mundo no Dia Internacional da Mulher, penso que este seja o motivo de eu ser uma eterna criança.
     Tive uma infância maravilhosa, regada de muitas "artes" e muitas surras. Até os seis anos não conhecia o mar, passava meus veraneios em um chalé que meu pai construiu para o ócio dos fins de semana. O "Rancho", como carinhosamente era chamado, localizava-se em um dos "braços" do Rio dos Sinos, em São Leopoldo. Naquele tempo o rio ainda era agradável ao olfato e totalmente sem poluição. O Rancho não tinha energia elétrica e a água era fornecida pelo poço do vizinho. Mesmo assim era maravilhoso! Que saudades!
     Lembro muito bem de um amiguinho da minha idade que também passava seus verões por lá, o Léozinho. Um dia, ao me despedir dele para voltar para casa, no final da tarde de um domingo, ele não me deixou ir embora. Meu pai, estranhando a demora nas despedidas, foi me procurar. Me encontrou trancada no galinheiro, aos prantos, morrendo de medo do galo.
     Lembro, também, de outro episódio tragi-cômico passado lá: estava brincando com o Léozinho e fui picada, no braço, por um marimbondo. Abri o "berreiro" e corri para casa para afogar a dor no colo da mãe. Na corrida, não percebi e pisei numa bosta de vaca que, coisa de cinema, voou até meu olho. Chegando em casa, com a bosta, as lágrimas e a mão vedando a visão, ainda tive de suportar as gargalhadas do meu tio quando descobriu que a picada era no braço e no olho só tinha o excremento do quadrúpede que defecou no meu caminho.
     No ano de 1962, antes de eu começar na escola, foi lançado, no mercado, o primeiro par de sandálias havaianas da São Paulo Alpargatas. Que luxo! Foi uma revolução em matéria de calçado. Até então, meus chinelos eram de couro, com solado duro e ruim de correr. Adorei a novidade! Ficou mais fácil de "bater os cambitos" na rua.
     Em 17 de junho deste mesmo ano, o Brasil conquistava o Bi-Campeonato Mundial de futebol. Não lembro de nada deste episódio, talvez porque não havia televisão, a família se inteirou do espetáculo pelo rádio.
     Aos seis anos ingressei na Escola Estadual Maria Gusmão Brito, no jardim de infância (pré-primário como era chamado). Era o ano de 1963. Não recordo da professora, mas lembro do guarda-pó que tínhamos de usar, fazendo sol ou fazendo chuva. Num dia horrível de quente, a professora permitiu que os alunos tirassem o uniforme e eu, pela primeira vez na história da minha curta vida escolar, tinha convencido minha mãe de que não era preciso usar o vestidinho por baixo do guarda-pó, somente uma anágua (uma peça de roupa tenebrosa que as mulheres deviam usar sob o vestido). Conclusão: fui a única criança que permaneceu de uniforme.
     Neste ano meu pai comprou uma aparelho de televisão, o primeiro da rua. Aos domingos, nossa sala ficava florida com a presença de parentes e vizinhos que vinham assistir às "lutas livres".
     Sou obrigada a parar de escrever, vou divagar pelas páginas da memória. Bateu uma nostalgia! Saudades dos desenhos animados sem violência e com belos ensinamentos morais. Saudade dos seriados divertidos: Os Três Patetas, Perdidos no Espaço, Terra de Gigantes, Rin-Tin-Tin, O Vigilante Rodoviário, os filmes da Lassie. Os filmes da Marisol que íamos ver no cinema.
     Parece que foi ontem, ainda lembro da noite que vi a gaúcha Ieda Maria Vargas ser coroada "Miss Universo". Era tarde da noite para uma criança, já tinha sido apresentada a propaganda com a musiquinha "Tá na hora de dormir. Não espere a mamãe mandar. Lindos sonhos vamos ter e um alegre despertar". Convenci meus pais e assisti ao concurso. Mesmo sonolenta, não deixei de sonhar, como toda menininha da época, que um dia também seria uma "Miss".
     Em 1964 ingressei na 1ª série. A professora, uma doçura de pessoa, se chamava Dalva. Como era a mais pequena da sala de aula, até hoje sou, a professora me chamava de "Meu Pintinho Xexéu". Xexéu era um personagem da nossa cartilha.
     Naquela época, não sabia o porquê, agora sei, éramos, eu e meu irmão, impedidos de brincar fora do pátio, o portão era chaveado. Minha mãe mostrava-se ansiosa até meu pai chegar do trabalho. Ele era contabilista da fábrica de armas "Amadeo Rossi SA" e também andava nervoso com a situação do país. Apesar destas emoções agitadas, tocamos a vida com carinho e educação.
     Não posso deixar de citar que 1964 foi um ano bissexto, mas naquele 29 de fevereiro o povo ainda não sabia, ao certo, o que estava por vir. 31 de março de 1964: Jango deposto, Jânio Quadros assume a Presidência da República. Começa a Ditadura Militar no Brasil.
     O ano de 1965 foi bem marcado na cidade onde nasci e morava, São Leopoldo. Não recordo de absolutamente nada da minha 2ª série, mas lembro de quando as aulas foram interrompidas para a escola alojar os flagelados da grande enchente que inundou a cidade.
     1966: troquei de escola. Fui estudar no Colégio Santa Terezinha, 3ª série, a professora se chamava Edi Ferreira. Neste ano, Dorothy Mae Stang começa a trabalhar no Brasil. Seu trabalho missioneiro findou-se em 12 de fevereiro de 2005. Sua vida foi ceifada pela mão descontente de um mercenário.

" Não vou fugir e nem abandonar a luta desses agricultores que estão desprotegidos no meio da floresta. Eles têm o sagrado direito a uma vida melhor numa terra onde possam viver e produzir com dignidade sem devastar". (Dorothy Stang).

     Na 4ª série, em 1967, eram duas professoras: Dulce e Schirlei. Neste ano, Mário Quintana (Alegretense de nascimento) recebe o título de cidadão honorário de Porto Alegre.
     O ano seguinte, 1968, na 5ª série. Fugiu da memória a professora e os colegas, só ficou a lembrança do jogo de "caçador" na hora do recreio e a alegria de ingressar no Curso Ginasial sem precisar fazer o exame de admissão, eu passara com excelente média nas notas.
     No ano que comecei a cursar o 1º ano ginasial no Colégio São José, também em São Leopoldo, a primeira pedra nas proximidades de nossa ilha foi conquistada. Em 20 de julho de 1969 a nave Apollo 11, batizada de "eagle", pousava em solo lunar. Neil Armstrong entrou para a história como sendo o primeiro homem a pisar na Lua, sendo logo seguido por seu companheiro de jornada, Edwin Aldrin.
     1970: Tri-Campeonato Mundial de futebol. Torci! Vibrei! Gritei! Festejei muito! Até aquele glorioso dia, não tinha noção da felicidade que era vencer uma copa do mundo e também nunca tinha visto meu pai chorar.
     As lágrimas que teimavam em escapar e corriam faceiras pela face de meu pai vão ficar sempre guardadas em minha memória. Quero que esta imagem supere a dor da despedida que veio não muito tempo depois. Em 18 de dezembro de 1971 meu pai foi habitar na morada celeste, aos 42 anos.
     Com a morte de seu amado, minha mãe resolveu voltar para sua terra natal. Mudamos para Taquara em 1º de março de 1972 e fui cursar o 4º ano ginasial no Colégio Santa Terezinha, nesta cidade.
     À partir daí minha vida tomou outros rumos, comecei a partilhar minha jornada com outros personagens, com novos amigos.


Meus Ancestrais:
     Foi difícil conseguir fotos com meus pais e avós.
     Não conheci minha avó materna, nem mesmo a minha mãe teve a oportunidade de conhecê-la (ela morreu muito jovem). Meu avô paterno, que casou novamente depois da viuvez, vi uma única vez (que me lembre).
     Aos cinco anos de idade, faleceu minha bisavó (quem criou e educou minha mãe), mas lembro-me muito bem dela. Foi dela que herdei a estatura.
     Minha mãe me legou a vocação da maternidade, e amor pela família, a vontade de batalhar e vencer, o instinto de sobrevivência, a dedicação aos filhos, a não desistência de meus ideais, as obrigações de uma dona-de-casa.
     Meu pai partiu para o andar de cima quando eu tinha quatorze anos. Foi uma partida triste e dolorosa para todos nós. Mas antes de ir embora, ele me ensinou a importância da honestidade, lealdade, sinceridade, do amor ao próximo, do estudo, da educação. Me mostrou o quanto é necessário manter e divulgar esses valores. Me ensinou a amar os números e tudo o que se relaciona a eles. Me estimulou a resolver charadas e nunca desistir de nada, no meio do caminho.
     Minha bisavó paterna me deixou o gosto e a curiosidade pelo misticismo.
     Com meus avós paternos convivi muitos anos, meus filhos os conheceram  e ainda os mantêm na memória. Esses queridos personagens da minha história ajudaram a construir minha personalidade.
     Minha avó me ensinou a sempre manter um lugar à mesa, para os famintos de pão; sempre ter um ombro amigo, para os famintos de atenção. Me ensinou a rezar, em português e alemão (também ensinou alguns palavrões). Me deixou, com muito orgulho, esta cor morena.
     Meu avô, eterno brincalhão, sempre tinha no bolso uma balinha para os netos e um comprimido de Cibalena para eventuais dores de cabeça. Contava belas histórias e fazia um excelente churrasco. Gostaria de ter herdado dele àqueles lindos olhos azuis, mas não foi possível. Ele só me deixou o prazer pelo fumo e pela cervejinha gelada.

     A foto abaixo é o documento mais recente da família, “O CLÃ DOS BECK”, como eu o denominei. Ai estão meus tios, meu irmão, primos e nossos filhos.






     As pessoas me vêem como uma mulher de baixa estatura que tinge os cabelos para esconder os grisalhos. A pele já não apresenta elasticidade e algumas rugas de expressão teimam em se manifestar. Os olhos já não têm o mesmo brilho da juventude e necessitam de óculos para os caracteres miúdos.
     Me vêem, até, como uma senhora “assanhada” que faz coisas que não estão de acordo com o padrão da idade: dança uma noite inteira e, no outro dia, vai para o trabalho com a mesma disposição de sempre; canta; conta piadas; não consegue manter dentro da boca “citações” que não deveriam ser ditas naquele momento ou naquele local.
     Eu me vejo como uma mulher pequena no tamanho, mas grande em objetivos de vida.
     Pinto meus cabelos para esconder os grisalhos, sim. Mas não é só para esconder os cãs, é porque gosto de ver, através do espelho, uma imagem agradável.
     É claro que minha pele já não é mais a mesma. Estas rugas impertinentes e indesejáveis são marcas das muitas emoções que vivi. Isto é o que importa! Ter chorado, ter sorrido, ter gargalhado, ter amado.
     Necessito de óculos, é verdade. Meu olhar já não tem o viço de antigamente, mas ainda brilham diante das belezas da vida, se enternecem, transmitem emoções positivas e negativas.
     Sei que sou uma senhora que já passou dos cinqüenta anos de vida, mas isto não é empecilho para realizar aquilo que os jovens pensam que só eles podem e sabem fazer. Meu espírito será eternamente jovem. Às vezes, uma criança travessa. Às vezes, uma adolescente apaixonada. E sempre, uma mulher em busca de seus sonhos.

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