quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

MEMORIAL

Hoje amanheceu com uma chuvinha gostosa! Não estou a fim de "bater os cambitos" na rua, então resolvi fazer uma faxina nos arquivos do computador. Encontrei maravilhas que já estavam esquecidas, entre as quais o "Memorial do Primeiro Semestre na UFRGS".


A cada um de nós é dado um punhado de tempo para gastar como pudermos.
 Usamos o que queremos.
Desperdiçamos o que queremos.
 Mas nunca podemos recuperar um dia.”
 (Roger Wilcox)

 
 
MEMORIAL DO PRIMEIRO SEMESTRE

     Memorial é uma narração escrita de fatos e feitos memoráveis, segundo meu auxiliar para assuntos aleatórios, o dicionário.
     Minha vida está repleta de fatos e feitos memoráveis, mas não é possível passá-la a limpo e colocá-la no papel. Primeiro, porque seria um discurso longo, às vezes enfadonho, com tópicos tristes e recheado com muita alegria e vontade de viver. Segundo, porque o objetivo desta atividade não é se prolongar nos pormenores de minha vida passada e sim se ater ao que sou no presente, minha vida pessoal, meu trabalho como educadora, minha vivência no Pead. Contudo, não posso deixar de citar fatos do passado porque é deles que sai a essência de minha vida atual, minha postura na sociedade, minha dedicação como mãe e como professora.
     Tive uma infância maravilhosa, com direito à todas as “artes” e surras que mereci. Cresci, namorei, casei e tive um processo de divórcio muito pesaroso, que abalou as minhas bases, onde meu marido entrou com o pé e eu com a bunda (Ops! Devia ter dito traseiro). Mas, como guerreira que sou, levantei, sacudi a poeira e dei a volta por cima. Afinal, ao parar para pensar, refleti que toda mágoa da separação era ínfima em comparação com a tristeza na partida de meus pais quando suas missões terrenas se deram por terminadas. Mas eu não saí pobre deste casamento, ao contrário, saí milionária, pois Deus me deu o direito à maternidade.
     Vocês sabem, os anjos existem! Às vezes não possuem asas e eu passo a chamá-los de Luciana e Alexandre: meus filhos.
     Estes seres maravilhosos que norteiam o meu viver são os responsáveis pelo meu ingresso no Pead. Me incentivaram, estimularam, empurraram, xingaram e pagaram a taxa do vestibular (meia salgada, né?) e venceram. Aqui estou eu!
     Meu primeiro dia de aula foi cheio de empolgação, peito estufado (sou acadêmica da Ufrgs). Aos poucos fui percebendo o quanto eu era desinformada em matéria de computação. Eu nasci de novo e tive de me alfabetizar na tecnologia. Veio um desânimo, uma vontade de mandar tudo para a p..., desculpe!, para o espaço. Mais uma vez os meus anjos tiveram um papel de destaque na minha determinação. Saí vitoriosa nesta luta entre o desânimo e a empolgação. Levantei o queixo, empinei o nariz e lá me fui em busca de mais conhecimentos, de conteúdos que enriqueçam o meu papel de professora e de cidadã consciente de que tem uma missão à cumprir.
     Estou escrevendo meu memorial aos poucos, conforme sou iluminada pelas lembranças. Nesta manhã de domingo, quente, tensa e barulhenta, não consegui abrir as páginas da memória porque minha casa está florida de colorados (meu filho e seus amigos). Eu, gremista nata e ferrenha, não pude deixar de me emocionar com a empolgação dos rapazes. Torci, pulei, gritei e vibrei com a vitória do alvi-rubro gaúcho. Acima de qualquer diferença esportiva está meu amor e dedicação por meu rebento. Sou gaúcha e as lágrimas teimam em fugir de meus olhos e dançar, sem vergonha, por minha face. Parabéns colorados! Valeu a sua torcida! Sei muito bem o que estão sentindo, pois já passei por isso (faz bastante tempo) e me orgulho de ser, também, campeã do mundo.
     Até a pé nós iremos, para o que der e vier, mas o certo é que nós estaremos... A glória dos desportos nacional é unir duas torcidas adversárias numa comunhão de alegria.
    Voltando ao assunto, retomo minhas reflexões e meu pensamento voa para o mês de agosto. Agora eu tenho um e-mail. Que chique! Um blog, bem simples, pois ainda não sei enfeitá-lo com belas imagens e fundos coloridos. Que meigo!
    Começam as atividades relativas ao curso. Estas são para valer. Me desespero novamente. Estou atrasada com as postagens. Bate o desânimo. Vou, volto, paro, penso e me questiono: o que é isso Suzan? Você é capaz! Você é guerreira! Você quer se formar e seguir carreira, então levante-se da cadeira e ponha-se a trabalhar.
     Durante este breve espaço de descaso com minhas capacidades. Diante do vasto campo que terei que palmilhar até chegar ao apogeu, me senti a própria musa inspiradora do Raul Seixas.
     Enquanto você se esforça prá ser um sujeito normal e fazer tudo igual. Eu, do meu lado, aprendendo a ser louca. Maluca total na loucura real. Controlando a minha maluquez, misturada com minha lucidez. Vou ficar, ficar com certeza maluca beleza!
     Esse caminho que eu mesma escolhi é tão fácil seguir por não ter onde ir.
     Opa! Estou invertendo valores. O caminho não será fácil de seguir, mas eu sei exatamente para onde estou indo.
     Sem lenço nem documento, tomo uma dose substancial de Celimone (tutoras Celi e Simone) e reinicio minha jornada. Aos poucos, minha bagagem vai comportando excelentes leituras, vou postando simplificados textos, de acordo com minha capacidade intelectual e minhas inspirações momentâneas. Além de meu parco talento estão todas as palavras comuns: disciplina, amor, sorte – mas, acima de tudo isso, minha resistência física e mental.
     Seguindo pelas veredas do Pead, numa bifurcação de meu estado de espírito, li “O Despertar” de Lúcia Carrasco. Despertei para uma gostosa realidade: Sou mulher consciente de minhas qualidades e defeitos (poucos); sou mãe orgulhosa dos filhos que deu à luz; sou uma profissional competente e que ama (de paixão) o que faz; sou uma futura pedagoga que vai se debulhar em lágrimas, entre risos e sorrisos, no dia de receber o canudo; quero muito dançar, cantar e encantar-me com tudo que a vida ainda tem para me oferecer e com muita feminilidade e sabedoria, retirar as pedras do caminho para, então, encaminhar-me, com um sentimento de dever cumprido, à trilha reta e plana do final.
     Ao som de Simon & Garfunkel refresco minha memória com a teoria de Max Weber sobre os três tipos de dominação legítima. Weber teoriza dominação classificando-a em três formas definidas: Legal (oriunda de leis e estatutos que toda sociedade necessita); Tradicional (provem de um patriarcado e que, na minha opinião, ainda é a mais eficaz); Carismática (gerada à partir de uma devoção afetiva, não obedecendo à regras de comportamento e, por si só, é muito perigosa). Eu, simpples mortal, pretensa conselheira, ouso intervir na teoria de Weber e colocar uma quarta dominação: aquela que é alimentada pelo medo, subjugada pela violência verbal e/ou física. Um indivíduo dominado pelo medo não se desenvolve em nenhum aspecto: tem medo de se manifestar em qualquer circunstância, tem medo de chorar ou sorrir, tem medo de ser feliz, em hipótese alguma se mistura com os transeuntes na caminhada da humanidade.
     Ufa! Uma pausa para um café ou, quem sabe, uma cervejinha bem gelada.
     Pego meu caderno de “pensamentos”, abro ao acaso e me deparo com uma frase de Robim Williams “Você só recebe uma pequena fagulha de loucura. Cuide para não perdê-la”. É verdade! Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios (outra frase que desconheço o autor). Como eu não sou provida de toda a sabedoria e jamais atingirei a plenitude do saber, não sou imortal, levanto-me e me ponho a dançar para desenferrujar as pernas amortecidas e o traseiro dolorido. Isto me empolgou, ligo para as amigas e combino uma saída à noite, vou dançar, namorar, me divertir, beber todas e ser feliz.
     De repente, o rádio me presenteia com “Prá não dizer que não falei das flores” de Geraldo Vandré, na voz de Simone. Lembro do tempo em que a música foi lançada e logo proibida de tocar nas rádios. Naquela época eu não sabia o por quê. Hoje eu sei. Sei também por que o nome Marx e a palavra comunismo eram sinônimos de pecado. Ninguém ousava nem pensar neste assunto, pois as paredes têm ouvidos e falam também.
     Gostei de fazer minha atividade baseada nas teorias de Karl Marx e Friedrich Engels. Me identifico um pouco com aquilo que eles defenderam: sou abastada no gosto pelas inovações; sou polemista por natureza; adoro entrar numa discussão sadia sobre qualquer assunto, sobretudo àqueles que domino; me preocupo com o futuro dos pobres de espírito e de recursos econômicos. Às vezes, me dá uma vontade de pergunar à Deus porque ele permite tantas misérias e tantas desigualdades. Só não pergunto porque temo que ele me faça a mesma pergunta.
     À esta altura, eu já mantenho fortes laços de amizade com a computação. Estou quase íntima do Rooda e minhas atividades estão sendo postadas dentro do tempo previsto. Redigi um jornal. Meu Deus! Ficou um horror! Mas é o meu primeiro jornal e muito me orgulho dele.
     Como sou muito metida, ousei elaborar alguns conselhos para os internautas da pedagogia. Visitem meu blog. Estes conselhos são destinados mais à mim do que à qualquer outra pessoa que tenha a paciência de lê-los.
     Surgiu uma atividade onde deveríamos formar um grupo de acordo com uma sigla. A minha era B1. Foi uma correria, uma visitação descontrolada e tresloucada pelos blogs alheios. Consegui, ou melhor, conseguiram. Minhas parceiras de letra me encontraram e conseguimos formar o grupo. Porém, as atividades em conjunto eram meio obscuras e parecia que tudo e todos iriam morrer na casca. Ledo engano, o verdadeiro objetivo foi alcançado: unir colegas de outros polos, aproximar seres que compartilham as mesmas preocupações. Sempre que posso, visito os blogs destas amigas e deixo uma frase ou um pequeno texto de encorajamento e carinho.
     Aliás, a festa do Pead foi com este intuito. Naquele dia, em meio às visitas, batizado, canções e paródias, eu procurei por estas colegas e me frustei na busca. Era muita gente bonita e alegre. Mas não faltarão oportunidades para eu matar a curisiodade de conhecê-las pessoalmente.
     Gente! Tive de montar um Blog Pedagógico. Estava apavorada, mas nada de pessimismos. Vamos lá! Escolhi o tema !A Evolução dos Meios de Comunicação”. Montei o texto por escrito e comecei a postar. Aconteceu uma catástrofe! Me perdi dentro do mais moderno meio de comunicação. Me esqueci que o blog vai sendo formado de baixo para cima e meu trabalho ficou uma “Torre de Babel”. Desculpa, Rosa! Foi sem querer. Errar é humano, persistir no erro é burrice. No próximo, se houver, eu tomo os devidos cuidados e caprichos.
     Num dia desses, corrido e suado, fui assitir ao filme “Escola de Rock”. Era um dia daqueles em que você não tem tempo disponível nem para coçar a periquita. Estes dias deveriam ter 48 horas. Me preparo para descascar o abacaxi e meu DVD não funciona: problema técnico - comigo - não com o aparelho. Chamo minha sobrinha e ela faz tudo funcionar direitinho. E aí vem a surpresa, cai meu queixo e eu me recrimino por me precipitar no julgamento da película (eu deveria dizer CD?). O filme é excelente!
     Se um observador lógico admitisse que o protagonista era um professor, estaria colocando em dúvida sua própria capacidade de pensar e estaria desmoronando seus resultados intelectuais. Dewey não tinha a menor vocação para a docência, mas era um mestre em descobrir talentos e de colocá-los em prática. Afinal, como Alexander Soljevitsin escreveu “O talento é sempre ciente da sua própria plenitude e não se opõe a partilhá-lo”.
     A propósito, me recordei de um projeto trabalhado com meus aluninhos: “Música: Linguagem universal dos homens”, onde foram produzidas ótimas paródias e confeccionados instrumentos musicais utilizando sucatas. Eles amaram de tal forma estas atividades que vamos nos apresentar na última comemoração da escola este ano. Entoaremos uma canção natalina acompanhados pelos instrumentos musicais. Não será nenhuma Brastemp, mas com certeza será um show à parte.
     Finalmente cheguei no ponto onde mais tive prazer em ler e escrever: "Cadê a certeza que estava aqui?” Texto magnífico, transbordando de agulhadas no meu ego. Quantas vezes, no decorrer destas linhas que eu me atrevo a chamar de “Memorial”, eu usei a borracha. Quanta incerteza em cada palavra, em casa frase. É isto mesmo que estou pensando? Foi isto mesmo que fiz? Claro que é! Coragem! Siga em frente.
     Este texto de caráter motivacional me fez lembrar de uma história que segue a mesma linha de raciocínio: “Quem mexeu no meu queijo?” Quem, entre aqueles que o leram, não se identificaram com os mimosos personagens: Hem e Haw.
     Quase todo mundo já teve uma sensação de incerteza pela vida. Uma sensação de que o tempo anda passando rápido demais e que perdemos preciosos minutos, horas ou dias ao parar para refletir sobre o que devemos ou não fazer. A correria do dia-a-dia e as pressões impostas pela rotina aceleram o relógio e quase sempre sufocam o prazer de saborear os pequenos detalhes que nos passam despercebidos.
     Tem um antigo ditado popular que diz que não devemos deixar para amanhã aquilo que podemos fazer hoje. Sábio conselho, pois é no presente que devemos degustar o milagre da vida e aproveitar o privilégio de sermos seres pensantes, capazes, com breves incertezas que logo são ultrapassadas pela certeza do sucesso daquilo que realizamos.
     Não adianta adiar para amanhã, ou se conformar com fatos passados. É neste exato momento que a vida se mostra mais vibrante e colorida. Mesmo que o dia esteja chuvoso (água também é vida), que os sinais de trânsito estejam todos no vermelho, que a carteira esteja magrinha, que se quebre uma daquelas unhas tão bem cuidadas, que outra ruga seja apresentada pelo espelho ou que aquela tenebrosa enxaqueca não queira ir embora. Por mais contraditório que pareça, os desgastes e problemas cotidianos nos ensinam a valorizar as pequenas alegrias e a beleza das coisas simples. Basta prestar atenção e respirar fundo para perceber que sempre há motivos para celebrar. Observe as gotinhas de chuva e veja como elas bailam no ar até se espatifarem no chão e, em comunhão, formarem uma poça. A cor vermelha dos semáforos indica que você deve parar, olhar para os lados e investigar se não tem nenhum “gatão” para dar uma piscadinha. Sua enxaqueca vai ceder, sua unha vai crescer novamente e as rugas indicam que você tem bastante experiência de vida. O prazer de estar vivo deve ser celebrado todos os dias, sem adiamento.
     Bem! No início deste texto, eu me propus em não torná-lo cansativo. Mas antes de me despedir devo apresentar uma pessoa que muito me estimula, me xinga, me elogia: Eu. Por trás desta pequena criança grande existe uma Suzan que muitos de vocês desconhecem. Uma Suzan que sorri com facilidade, que chora diante de muita felicidade, que se mantem firme e discreta diante de uma dor, que não sabe apreciar um pôr-do-sol sem sonhar, que se encanta com as peripécias das ondas do mar, inconstante em sua paixões e constante na amizade. Uma Suzan que não teme o avançar to tempo. Um tempo que a tradição pinta com alvas barbas e que é, ao contrário, um rapagão e que só parece velho para aqueles que já o estão. Uma Suzan que em si mesma traz a perpétua e versátil juventude.
     Esta Suzan que, após o Pead, continua sendo a de sempre. Porém mais ponderada e um pouquinho mais sábia. Que, inspirada e muito em Paulo Freire, pratica a docência. Que sempre adorou ler Rubem Alves. Que, ao contrário do que era no inicío deste semestre, está adorando todas as atividades.
     Encerro este capítulo da minha história no Pead com a certeza de ter escolhido um bom caminho. Se, acaso, não tenha atingido os objetivos propostos, me conformo com o prazer de realizar esta atividade e deixo um pequeno pensamento:

“Há pessoas que transformam o Sol numa simples mancha amarela,
 mas há também aqueles que fazem de uma simples mancha amarela o próprio Sol”.


     Este memorial foi escrito em dezembro de 2006, de lá para cá, muitas coisas aconteceram: lágrimas, sorrisos, gargalhadas, novos amores, novos amigos. Eu continuo a mesma!
     Nossa formatura, em 19 de janeiro de 2011, foi o sucesso esperado, a realização do sonho de quase cinco anos de muito estudo, muito trabalho, alguns erros e muitos acertos.

Pead! Colegas, professores e tutores da UFRGS! Que saudade!

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