terça-feira, 6 de março de 2012

Sobre Educação: Dá para perceber a diferença?


Recebi este texto via e-mail, desconheço o nome completo da autora,
 apenas que se chama Nora e é professora, assim como eu e vocês....
Esta senhora merece meu respeito!

     "Outro dia, folheando a revista Veja num consultório médico, li uma reportagem bastante interessante que mostrava, com estatísticas, que as crianças de origem asiática, que vivem no Brasil, apresentam um desempenho escolar superior ao dos estudantes brasileiros.
     O texto explicava que, nas classes onde elas são maioria, o silêncio e a atenção são uma constante.
     Ouve-se claramente a voz do professor explicando a matéria.
     Dizia também que essas crianças dedicam NOVE horas diárias ao estudo (quatro na escola e cinco em casa) enquanto que  as nossas, apenas QUATRO (as da escola).
     Quando chegam em casa, essas crianças asiáticas pegam seus cadernos, livros e estudam. Fazem os deveres de casa que o professor passa, lêem, treinam equações matemáticas, ...
     Enquanto os brasileirinhos, em sua maioria, vagueiam pelas ruas empinando pipas ou jogando bola.
     Com isso, os asiáticos do nosso país estão conseguindo os melhores postos de trabalho (que são justamente aqueles que exigem maior qualificação e preparo) em empresas com ótima remuneração, assistência médico-hospitalar e condições de ascensão profissional.
     E tudo isso me fez lembrar de uma menina brasileira que morava no Japão e veio visitar os parentes que ficaram aqui.
     A tia dela era Orientadora na escola onde lecionávamos. Certo dia estávamos em nossas classes, tentando dar aula e explicar a matéria para os alunos que, como sempre, só conversavam e brincavam de costas para a lousa... enquanto isso, a tia, nossa orientadora, vagava com a garota pelos corredores da escola, procurando uma classe mais calma, onde a sobrinha pudesse ficar resolvendo as questões de uma provinha de terceira série que ela (tia) havia preparado, para verificar o aproveitamento e a adaptação da menina na escola japonesa. Mas a menina ficou aterrorizada com a gritaria dos nossos alunos e preferiu resolver a prova na Biblioteca, alegando que não conseguiria concentrar-se com aquela bagunça.
     Perguntamos então o que acontecia na escola dela com os alunos que só queriam brincar, não estudavam e não respeitavam o professor em sala de aula.
     Ela disse que eles eram castigados.
     Perguntamos então qual era o castigo.
     E sabem o que ela respondeu?
     Que não sabia, porque na classe dela NUNCA havia visto um aluno conversar durante as explicações ou desrespeitar seu professor....
    
     Perceberam a diferença?

     Nas escolas públicas brasileiras, as salas de aula são superlotadas, com até 45 alunos por classe.
     Para esse auditório, o professor tem que ensinar: o conteúdo das disciplinas (matemática, português, história, ciências, geografia,...) + cidadania + valores + educação sexual + higiene + saúde + ética + pluralidade cultural.
     Deverá também funcionar como psicólogo, assistente social, orientador educacional e orientador pedagógico, desempenhando também os deveres familiares que a sociedade resolver transferir para a escola.
     Nossos alunos dizem que as aulas são chatas e alegam que não gostam de ler.
     Que ler não é divertido....
     Que jogar bola e empinar pipa é melhor...
     E todos logo gritam em coro:
     - Culpa dos professores que não dão uma aula divertida e atraente para as crianças.
     As Secretarias da Educação  surgem em cena alegando que o aluno que temos é assim mesmo e que os professores precisam aprender a ensinar...
     Rotulam o magistério oficial como “professores nota zero”.
     O que eles querem esconder é que temos em classe crianças ( filhos de eleitores) que recebem o livro didático, cadernos e até mochilas mas “esquecem” em casa para ficar brincando durante a aula...
     Crianças que não fazem lição de casa, não estudam e nem sequer prestam atenção as explicações do professor em classe.
     Para agradar os pais eleitores, as Secretarias da Educação encaminham os professores para cursos de “capacitação”, alegando que eles não têm mais capacidade para ensinar.
     Contratam firmas para dar esses cursos que segundo eles, tem o poder de transformar “profissionais despreparados” em professores criativos, prontos para dar uma aula eficaz, envolvente, estimulante e, ao mesmo tempo, divertida , capaz de fazer com que os alunos gostem mais da escola do que das partidas de futebol, mais de leitura do que dos jogos no computador....
     É claro que esse discurso de responsabilizar o professor e varrer a sujeira pra baixo do tapete não vai levar a Educação a lugar nenhum.
     Mas serve perfeitamente para justificar, junto a opinião pública, os baixos salários pagos aos profissionais de educação de um país que mais arrecada impostos no mundo.
     Imagine que você está doente, vai ao médico e ele prescreve determinado remédio.
     Você não toma o medicamento, não faz a sua parte e culpa o médico por não melhorar...
     Assim acontece nas escolas públicas brasileiras: o professor ensina e os alunos não prestam atenção, não estudam, não fazem os deveres de casa , como nossos amiguinhos asiáticos.
     Daí vem o governo e culpa o professor pelo mau desempenho dos “estudantes”.
     Os professores recebem um bônus por produtividade, uma vez por ano, ...
     ...se os alunos estudarem
     ...se os alunos não faltarem;
     ...se os alunos não se evadirem;
     ...se os alunos ...
     Daí vemos uma pessoa inteligente, com uma grande bagagem cultural, na TV, dizendo que se o professor não estiver satisfeito, que mude de profissão.
     Bem, meu caro Senhor! Se cada professor insatisfeito com o salário mudar de profissão, as escolas deixarão de existir.
     No lugar de proferir estas "sábias" palavras, você deveria ter sugerido aos eleitores a "receitinha" das crianças asiáticas:

     - fazer a lição de casa.
     - estudar,
     - empenhar-se,
     - dedicar-se.
     Enfim, fazer sua parte!

     A verdade é que o educador deixou de ser modelo para os jovens: ganhamos mal, nos vestimos mal e somos alvo constante da crítica social .
     Hoje, modelo para os jovens, são os milionários jogadores de futebol, pagodeiros e outros mais que prefiro nem relacionar aqui...
     Vamos combinar, não dá para falar em Educação de Qualidade enquanto o profissional da educação for sistematicamente desvalorizado , tratado pelo governo, pelas famílias e pela mídia em geral como um inimigo público, um vagabundo, ...
     Nessas condições , que aluno vai querer ouvir o que uma pessoa assim tem a dizer?















Nenhum comentário:

Postar um comentário